As novas velhas piadas

Dizem que as piadas não envelhecem, nós é que envelhecemos com elas. Geração vai, geração vem, elas continuam a ensinar e divertir, em sua lúdica filosofia. Assim como as piadas, o Rock in Rio deste ano mostrou que não envelheceu, eu é que envelheci com ele.

A primeira edição do festival foi grande responsável por boa parte da minha geração ter se apaixonado por música. Com shows históricos de Queen, Iron Maiden, Ozzy, Scorpions e Yes, aquela semana foi responsável por angariar toda uma geração de amantes de rock. Maravilhado, mesmo sem qualquer influência direta de parentes ou amigos, eu soube, desde o início, que aquela sensação nunca me abandonaria.

Na segunda edição, outros momentos inesquecíveis, com a "explosão" do Faith no More, a consagração do Sepultura e do Guns´N Roses, e as estreias de Queensryche, Judas Priest e Megadeth em terras brasileiras. Em 1991, já aos 15/16 anos, pude entender melhor o que aquilo significava para mim. Era a época de ir aos shows, descobrir as bandas clássicas e fazer amigos que compartilhavam a mesma paixão.

Na terceira vez, as coisas já não eram as mesmas. Aos 25, o cinismo em relação ao sucesso e o recalque de não ver minhas bandas preferidas no cast me impediram de lamentar minha ausência, graças a uma hérnia operada às pressas. As principais atrações foram "requentadas" (Guns, Halford, vocalista do Judas, e Iron Maiden, pela enésima vez), mas a coisa ganhou contornos mais "profissionais", com uma propaganda massificada impressionante.

Essa "profissionalização" expandiu a marca, o que levou à aberração de vermos edições em Lisboa e Madri, a partir de 2004. As pessoas que falam que hoje o evento tornou-se uma marca sem sentido são muito ingênuas, ou melhor, assim como eu, envelheceram com ele, pois sempre foi assim. Mesmo o rótulo de "rock" sempre foi desvirtuado, com atrações que são exatamente o oposto do que o estilo representa. Mas, pra não dizerem que fui radical e não falei de outros estilos, é preciso destacar os bons shows do Rod Stewart e James Taylor, em 1985; A-ha, INXS e Billy Idol, em 1991; REM e Sting, em 2001.

Desta vez, novamente, as bandas mais esperadas já estiveram por aqui várias vezes. Sinal de que o Brasil entrou no circuito mundial de shows relevantes? Claro. Mas não é só isso. O que está em jogo aqui é a relevância da escolha dessas bandas, no longo prazo. Neste ano, recebemos (ou ainda receberemos) shows como os de Paul McCartney, Tears for Fears, Motley Crue, Asia, Alice Cooper, Slayer, Whitesnake, Eric Clapton, Seal, todos fora do festival. Parando pra pensar, vemos como ele perdeu seu propósito de ser a reunião dos maiores artistas vivos de uma geração, para ser uma coletânea datada dos mais vendidos da semana. Espero, no entanto, que o festival cumpra a sua tradicional função de fazer mais pessoas gostarem de música.

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